Tenho aquela história clichê (porém real) da criança dos anos 90 que cresceu fotografando com a câmera analógica dos pais (de forma bem limitada, já que não era um dos ‘brinquedos’ mais baratos e acessíveis da época). Quando adolescente, com a chegada das câmeras digitais, lembro de fotografar absolutamente qualquer coisa que me aparecia no caminho, usando câmeras que pegava emprestado de amigas. Até que finalmente ganhei minha primeira cybershot de presente. Aos 16 eu queria ser fotógrafa. O primeiro contato que tive com uma DSLR (conhecidas como “””câmeras profissionais”””)(coloquem muitas aspas nessa expressão) aconteceu perto dos meus 18 anos, quando a ideia de trabalhar com fotografia já tinha ficado de lado, afinal o começo da vida adulta já estava batendo na minha porta.
Essa foi uma época muito doida da minha vida. Aquele momento em que todo mundo quer saber o que você vai fazer agora que já terminou o ensino médio. Desde nova eu tenho essa coisa comigo de me interessar por muitas áreas diferentes, além de ter uma certa facilidade em aprender coisas novas. Eu amava fazer redações, mas também ia bem em matemática, sabe? E aí eu também gostava de desenhar, assim como era apaixonada por história e geografia. Quando vi, estava cursando arquitetura – consegui uma bolsa de 100% em uma universidade particular.
Os primeiros dois anos foram de muitos aprendizados (não só sobre arquitetura, mas sobre a vida) e me animava com o lado mais ideológico da arquitetura, que até hoje é uma das coisas que mais amo nessa área. Mas, aí os primeiros estágios chegaram (leia-se trabalhos, porque nunca vi estagiário de arquitetura trabalhar menos de 8 horas por dia) e a cada dia sentia mais que não era aquilo que eu queria fazer pelo resto da minha vida. E bom, assim como me motivo e tenho facilidade para aprender coisas novas do meu interesse, quando o desânimo me pega… só @DEUS mesmo sabe o esforço e as cambalhotas que dei pra conseguir me formar. Insisti no curso porque uma parte de mim ainda alimentava a esperança de que formada as coisas iriam melhorar (spoiler: não aconteceu).
Na faculdade nós fazíamos muitas visitas de campo para conhecer terrenos de projetos que precisávamos criar, o que significava que eu estava sempre com minha cybershot na mão fotografando São Paulo. Viagens para outros estados (e países) também aconteciam. Eram viagens curtinhas (de dois ou três dias, no caso das nacionais) onde passávamos 12 horas por dia (ou mais) batendo perna e conhecendo construções icônicas dessas cidades visitadas. Foi em uma dessas viagens que eu tive o estalo da fotografia novamente – em Brasília – enquanto fotografava aquelas construções enormes com as pessoas pequenininhas, criando composições minimalistas antes disso virar moda aesthetic do pinterest e instagram. Que aliás, são redes sociais que nem existiam nessa época. Essas fotos aí embaixo são dessa viagem feita em 2010 e editadas com meu olhar de 2020, haha.
Naquela época eu editava tudo no Photoscape (quem lembra?) e postava no facebook e nos perfis que criava e excluía do Flickr. E assim foi durante todos os anos seguintes da faculdade. Só mudou quando passei a usar o celular pra tirar fotos, e quando deixei o Flickr de lado para postar no Instagram, criei minha conta lá em 2014. Em 2015 eu descobri um universo novo: o de pessoas que não usavam suas contas do instagram pra postar selfies/prints das músicas que estavam ouvindo (haha, quem nunca?) mas, para postar fotos esteticamente perfeitas de lugares que visitavam. Aí eu me apaixonei e comecei a me arriscar postando fotos de viagens antigas (como essa de Brasília) e fazendo uma foto ou outra no caminho de casa para o trabalho. Nessa época eu já tinha terminado a faculdade, trabalhava com arquitetura (oficialmente, não mais como estagiária) e me via cada vez mais desmotivada. E em uma busca de coisas-para-me-deixar-feliz-novamente, me reencontrei oficialmente com a fotografia.
O ano de 2015 trouxe a minha primeira câmera DSLR, um dos modelos mais simples fabricados pela Canon, que comprei após MESES de muita pesquisa. Meses em que passei estudando técnicas de fotografia antes mesmo de ter uma câmera em mãos, completamente obcecada em aprender mais sobre esse universo que eu finalmente estava desbravando. Também me trouxe muitos amigos aspirantes a fotógrafos, foram muitos finais de semana passeando por lugares novos em São Paulo para fazer fotos legais pra postar no instagram. Me vi completamente imersa nesse mundo e cada vez mais motivada a aprender mais sobre fotografia. Foram muitas horas assistindo aulas no youtube, muitos testes, muita leitura de blogs que explicavam melhor sobre fotometria, diferença de lentes, sensores… e ficando doida tentando controlar todos aqueles comandos pra conseguir dominar a luz das minhas fotos, eram coisas demais pra fazer ao mesmo tempo! Haha.
Fotos feitas em 2015: me reencontrando com a fotografia digital & analógica; e fotografando por São Paulo.
Além de fotografar os muitos lugares que eu visitava em São Paulo, também comecei fotografando meus gatos, alguns cafés, umas plantas e flores… Até que já não era o bastante pra mim. Eu também queria me aventurar fotografando pessoas. Comecei pegando algumas amigas de “cobaia” pra ver como seria isso e nem preciso dizer no que deu, né? Me apaixonei mais ainda por esse mundo. A partir daí novos desafios surgiram, como por exemplo: o de “como deixar uma pessoa que não está acostumada a fotografar confortável mesmo com uma câmera enorme apontando para o seu rosto?”. E mais estudos vieram. E uma viagem incrível veio. E o fim do meu trabalho com arquitetura também. E o primeiro ensaio de casal. E um curso técnico de Processos Fotográficos em 2017. E os meus primeiros trabalhos remunerados. E o primeiro casamento. E bom, aqui estou eu.
A fotografia tem sido uma grande jornada na minha vida. Que envolve principalmente a descoberta das coisas que eu realmente amo fazer e quem eu sou de verdade, porque a cada dia me vejo mais nos trabalhos que faço. Jornada tão gratificante, quanto cheia de desafios imensos e aprendizados. Tenho orgulho do caminho que trilhei até aqui, mesmo ele sendo cheio de curvas e incertezas (afinal, não é fácil abandonar sua área de formação depois de tantos anos de estudo e dedicação) mas, acredito que toda essa bagagem me torna uma fotógrafa (e pessoa) ainda melhor. E esse foi – e é – o meu caminho. Ou um pedaço mais ou menos resumido dele. Porque, como sempre, sou péssima em ser sucinta. E a minha história até a fotografia de casamentos fica para um próximo post 🙂
Beijos e até mais!
K.
Era pra ser MESMO Karine, não tinha como você NÃO ser fotógrafa. Com esse seu olhar lindo e peculiar para tudo, não poderia mesmo existir outro caminho. Adorei conhecer um pouco mais sobre a sua trajetória, obrigada por dividir com a gente. <3
ai, ca! sem condições você. muito obrigada pela visita e por esse comentário lindo <333
rolou 100% de identificação da minha história com a sua. li sorrindo e entendendo todo e qualquer sentimento que você desenvolveu em sua jornada, e que curiosa é a jornada vida, amiga! mas aos poucos, até quase sem nós percebermos, as coisas vão se encaixando; a coragem é nossa morada e as coisas começam a fluir – mesmo que diante do medo do novo.
e como você falou no insta, também acho essencial essa conexão do nosso trabalho com a nossa história. por amar contá-las, eu também valorizo muito saber sobre o caminhar do outro. me sinto abraçada, não sei explicar. todas as vezes que conheço a criação de alguém busco logo por saber como o caminhar dela se iniciou.
eu que tô no início das minhas transições, tô feliz por te ler e acompanhar mais uma fase do seu diário virtual lindo. obrigada por isso!
obrigada você por esse comentário perfeito! e boa sorte pra gente nessa jornada <3
Que delícia conhecer tua história e saber que minha cidade natal fez parte do seu desenvolvimento como fotógrafa. Dá um quentinho no coração ver esses lugares tão familiares pelo teu olhar. Estamos juntas nessa jornada muito doida da fotografia. Seu site está lindo e o meu está em construção. Espero que esse ano ele veja a luz. Beijos!
muito obrigada, alê! tenho um carinho muito grande por brasília, sempre me sinto “em casa” quando estou por lá <3